Shell planeja vender 20% de complexo no Brasil para financiar projetos bilionários
A Shell planeja vender uma participação de 20% em um complexo de campos de petróleo no Brasil com o objetivo de levantar recursos para financiar projetos offshore avaliados em bilhões de dólares, segundo fontes próximas ao processo.
A empresa britânica aceitou, ainda neste ano, adquirir a fatia da TotalEnergies SE no empreendimento por meio de uma troca de ativos. Agora, busca atrair novos investidores para captar capital, mantendo-se, porém, como operadora do complexo, afirmaram as fontes sob condição de anonimato.
O complexo Gato do Mato, que tem início de produção previsto para 2029, deverá alcançar uma capacidade de 120 mil barris por dia. O projeto é considerado estratégico para a Shell, que pretende preservar sua posição entre os principais produtores de petróleo do país. Além disso, a exploração da área é vista como essencial para compensar a queda natural da produção dos campos mais antigos do Brasil, já em operação há mais de uma década.
A Shell detém participações minoritárias em outros ativos no pré-sal, e, na semana passada, ampliou sua presença em dois campos durante um leilão. A Ecopetrol também possui participação no complexo Gato do Mato.
O Parque das Conchas, único campo brasileiro ativo onde a Shell controla atualmente as operações, já passou do seu pico e agora bombeia cerca de 30.000 barris por dia.
Em resposta enviada por e-mail, a Shell não quis comentar sobre se estaria em busca de um parceiro para o Gato do Mato.
A busca da Shell por outro parceiro evidencia como até mesmo as maiores exploradoras internacionais rotineiramente se aliam a empresas rivais para ajudar a cobrir investimentos. A Shell tomou a decisão final de investimento para o Gato do Mato em março, após custos crescentes terem levado a vários anos de atrasos.
O projeto deverá custar cerca de US$ 3 bilhões, considerando que a unidade flutuante de produção e armazenamento seja arrendada, segundo a consultoria Welligence Energy Analytics. A Shell não divulgou o valor do projeto e não quis comentar sobre o montante do investimento.
Os dois campos de Gato do Mato, que foram renomeados Orca e Sul de Orca após serem declarados comerciais, representam cerca de 10% do portfólio da Shell no Brasil, de acordo com a Welligence.
A Shell também está explorando a região de águas profundas da Margem Equatorial no país, uma área ambientalmente sensível onde a Petrobras iniciou perfurações em outubro.
Embora a reserva de recursos recuperáveis de Gato do Mato, estimada em 370 milhões de barris, seja menor do que outras descobertas em águas profundas no Brasil, ela ajudará a limitar a rapidez com que a produção de petróleo declinará na década de 2030, quando a extração começar a diminuir nos maiores campos do país.
“Os ativos são desafiadores, como a maioria dos projetos de desenvolvimento no pré-sal, estando distantes da costa e localizados em reservatórios profundos com alta pressão e baixa temperatura”, disse André Fagundes, que cobre o Brasil para a Welligence. Outro parceiro reduzirá a “exposição de capital” da Shell, enquanto permitirá à empresa manter o controle operacional do projeto, acrescentou.
