Macaé

O legado de Amílcar Tanuri em Macaé: ciência que salvou vidas

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Virologista da UFRJ transformou a cidade em referência nacional durante a pandemia e deixa um legado que precisa de continuidade

Ele ligou e disse: “vamos fazer os testes?” Eu relutei. O laboratório não estava preparado para testes em humanos, não tínhamos essa expertise e estrutura, mas ele tinha razão. Era uma emergência sanitária, as pessoas PRECISAVAM da universidade. Em uma semana estávamos preparados. A resposta rápida dele salvou centenas de vidas em Macaé e transformou a cidade em um exemplo de resposta científica e solidária à pandemia de COVID-19.

Amílcar Tanuri nos deixou no dia 26 de setembro de 2025. Perdemos nossa referência em saúde pública e sobre o papel da universidade: produzir conhecimento capaz de trazer mudanças para a população. Defensor do SUS, Tanuri mostrou que a ciência e a universidade pública podem — e devem — estar a serviço do coletivo.

Sua partida deixa uma lacuna imensa na ciência brasileira, mas também um legado que precisa ser lembrado e celebrado — especialmente em Macaé, onde sua atuação mudou a forma como enfrentamos crises sanitárias. Sob sua liderança, o NUPEM/UFRJ implantou, em 2020, um laboratório de testagem que realizou mais de 15 mil exames moleculares em apenas cinco meses, alcançando mais de 2% da população local. O impacto foi imediato: a cidade registrou uma taxa de letalidade de apenas 1,8%, contra 10,6% na capital no mesmo período. Esse feito histórico só foi possível pela soma de esforços entre sociedade, comunidade científica e a visão pioneira de Tanuri. Seguiram-se outras conquistas importantes para Macaé providas por Tanuri e seu grupo: acesso aos primeiros testes de antígeno específicos para SARS-CoV-2, o estabelecimento de uma vigilância genômica, mais de 30.000 exames sorológicos para pesquisa de anticorpos e, posteriormente a avaliação eficácia das vacinas aplicadas na população local, além do acompanhamento da população e desenvolvimento de estratégias de tratamento pós-Covid.

Dessas bases nasceu o LIDEN (Laboratório Integrado de Doenças Emergentes e Negligenciadas), uma parceria entre a Prefeitura de Macaé, instituições públicas (MPF, MPT, UFRJ, FAPERJ, CNPq) e privadas (Unimed Costa do Sol, Hospital São João Batista, empresas de petróleo).O NUPEM se consolidou como centro estratégico de vigilância epidemiológica e inovação científica no Norte Fluminense.

A trajetória de Tanuri ecoa a de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, sanitaristas que mudaram os rumos da saúde pública no Brasil. Como eles, uniu ciência, compromisso social e ação concreta em defesa da vida. Infelizmente, Amílcar Tanuri não viu a assinatura de um novo convênio que propôs com a Prefeitura de Macaé, voltado ao estudo do vírus Oropouche, uma ameaça emergente no país. Por aqui continuaremos. Temos o compromisso de continuar e em breve o acordo deverá ser assinado, dando continuidade ao compromisso com a comunidade.

 

A despedida de Amílcar Tanuri nos lembra que a ciência exige perseverança, apoio institucional e continuidade. Seu legado — como o de Cruz e Chagas — ensina que investir em ciência é investir na vida.

Texto por Rodrigo Nunes da Fonseca & Cíntia Monteiro de Barros, professores do Instituto NUPEM/UFRJ


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