Economia

Home office: empresas no mundo todo estão voltando para o escritório

A pandemia da Covid-19, por força da sua gravidade e excepcionalidade, gerou um grande impacto social global, sobretudo no ecossistema de trabalho. Antes da crise sanitária, algumas empresas avaliavam se seria possível trabalhar de maneira remota, longe dos escritórios. A pandemia não só mostrou que podia, como criou, em escala internacional, a modalidade do teletrabalho, vista por muitas empresas como uma forma de cortar gastos.

Despojadas, as big techs lideraram movimento do home office, mesmo com chegada das vacinas e o arrefecimento da pandemia. Empresas, como o Twitter – pré-Elon Musk – chegaram a determinar que a modalidade de trabalho seria “para sempre”.

Mas com o avançar do tempo, e passado o grande pesadelo de doença e morte, as companhias tiveram que correr atrás do desastre econômico gerado pela crise sanitária. De 2022 em diante, as companhias começaram a decretar a volta às atividades presenciais, mesmo com a resistência de funcionários, que exigem flexibilidade no desempenho das suas funções.

A tendência, no entanto, é a perda da força do teletrabalho, especialmente nas gigantes americanas, que costumam ditar os padrões mundo afora. Companhias, como Disney, Apple, Alphabet (do Google), Meta (do Facebook), Salesforce, BlackRock, Goldman Sachs, JP Morgan, e, recentemente Amazon e Dell, que haviam permitido que a maior parte dos seus funcionários exercessem o trabalho integralmente em casa, passaram a exigir alguns dias trabalho nos escritórios. Agora, o jogo virou, e as empresas querem que todos trabalhem cinco dias por semana na empresa, como determinou a Dell à sua equipe de vendas, em setembro deste ano.

Um dos casos mais emblemáticos da reversão do home office foi o da Zoom, empresa do software de chamadas de vídeo que, curiosamente, ajudou na massificação do modo de trabalho. Em 2019, o número de participantes em reuniões diárias do Zoom era de 10 milhões. No ano seguinte saltou para mais de 300 milhões. A empresa passou a exigir que os colaboradores voltassem ao escritório ao menos duas vezes por semana. Agora, alinhada às outras globais, anseia pela reversão do teletrabalho.

O movimento, no entanto, ultrapassa as techs americanas, e acontece em todo o mundo. Segundo a VC SA, A empresa Unispace entrevistou 9.500 funcionários e 6.650 empregadores de 17 países e verificou que, nos últimos meses, 72% das companhias determinaram o retorno ao escritório, seja gradualmente seja acabando com o home office.

A iniciativa tem reduzido o tempo trabalhado remotamente. Segundo a WFH Research, grupo de pesquisa da Universidade Stanford, voltado para o trabalho remoto, entre meados de 2021 e início de 2022, a média global de home office foi de 1,5 dia por semana, de acordo uma pesquisa avaliou mais de 33 mil participantes.

No Brasil, o home office batia 1,7 dia em casa. Ao repetiram a pesquisa em maio do ano seguinte, os estudiosos verificaram uma tendência média global de queda fi para 0,9 dias/semana em casa, que também é o novo patamar do Brasil, representando uma queda de quase 50% no tempo de teletrabalho no País.

A tendência de retorno foi detectada, no Brasil, pela Infojobs, que realizou uma pesquisa em janeiro de 2023, com base em 7.010 vagas de emprego. Na sondagem, 94,8% do trabalho executado era presencial; totalmente remoto, 2,7%; e híbrido, só 2,48%.

Mas gerentes de empresas de recrutamento tem encontrado candidatos, especialmente os mais qualificados, pleiteando mais flexibilidade quanto ao trabalho presencial. Por isso, muitas companhias têm relutado em acabar de vez com o home office, escolhendo manter algum modelo híbrido, preferido pelos trabalhadores. Os dias em casa são fonte de impasse entre patrões e trabalhadores. Os últimos querem o trabalho híbrido por conta da economia de tempo e dinheiro, mas destacam que a modalidade é muito solitária.

Para as companhias, a volta dos trabalhadores ao presencial cinco dias por semana tem a ver com produtividade que, em casa é mais baixa, como indicaram muitas pesquisas. No que diz respeito ao regime híbrido, uma pesquisa de Harvard mostrou que trabalhadores de numa ONG em Bangladesh que iam ao escritório apenas duas ou três vezes por semana produziam mais do que os colegas 100% presenciais. Diante desses dados, as empresas que querem acabar com o trabalho híbrido estão enganadas. Mas as companhias, no entanto, devem seguir na postura pró-presencial.

Em meio à transição, o home office permitiu de forma efetiva a inclusão no mercado de trabalho, tornando-se um grande aliado para a diversidade. Pessoas com deficiência foram especialmente beneficiadas, segundo uma análise de 2022 do Economic Innovation Group. Outro grupo afetado é o de mulheres com filhos. No começo de 2023, 75% das americanas estavam empregadas – um recorde histórico. A volta ao escritório, no entanto, levou a que muitas mulheres trocassem de emprego ou pedissem demissão, em 2022, por falta de flexibilidade.

Apesar da resistência dos trabalhadores, as empresas têm sido menos tolerantes ao número de dias para trabalhados em casa. Ainda assim, companhias têm realizado testes de redução de dias e horas trabalhados para saber se a produtividade dos trabalhadores cai ou aumenta.

Muitas pesquisas têm mostrado que o saldo é, aparentemente, positivo para todos, pois trabalhadores menos estressados produzem mais e têm uma vida mais equilibrada. Há ainda uma racionalização do processo produtivo, cortando reuniões inúteis e horas mortas nos escritórios. A tendência é focar na objetivação do processo para ser mais produtivo.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostram que os trabalhadores seriam capazes de negociar e se sacrificar  para terem um dia a mais de folga, ou seja, preferem uma semana de quatro dias, com o processo de trabalho todo focado em resultados. A medida para eles é até mais atrativa que o trabalho remoto. Há anos muitas países discutem a implantação de uma semana de trabalho de quatro dias. Ao que tudo indica, mercado, governos e mão de obra global estão propensos a pelo menos tentar.

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